A venda de alimentos orgânicos
no Brasil cresce em ritmo três vezes mais acelerado que a de todo o resto de
itens oferecidos em supermercados. Natural. Primeiro, por ser esse um nicho
minúsculo aqui, com alto potencial de expansão e contínua oferta de novidades.
Segundo, porque desde sua regulamentação,
em 2011, vem atraindo mais investimentos. E em terceiro lugar --mas não em
último-- porque o apelo "saudável" já fisga sete em dez brasileiros,
segundo pesquisa de hábitos de compra feito pela Nielsen. O que não é natural é
um consumidor pagar 45% mais pelo quilo de banana sem agrotóxico e três vezes
mais por um suco, em comparação com não orgânicos.
Cio da Terra produz orgânicos em Giruá |
A cada R$ 100 gastos ao mês por famílias
com frutas, verduras, legumes e ovos, só R$ 4 foram com orgânicos em 2012, segundo
pesquisa da Kantar Worldpanel. Em compensação, esse luxo já chegou a 10 milhões
dos 47 milhões de lares pesquisados.
Nas prateleiras
De olho nessa gente, os supermercados
ampliam a variedade de produtos orgânicos nas prateleiras e dizem conseguir, nas
compras em larga escala, reduzir os preços de alguns itens. As redes fecham
contratos de longo prazo com fornecedores regionais e entram com a logística,
diluindo o custo do transporte dos produtos.
No Pão de Açúcar, o preço de folhas
orgânicas já é igual ao das tradicionais. "Em alguns casos, são até mais
baratas", diz Sandra Sabóia, gerente da área no grupo. Dez anos atrás, no
Walmart, os itens orgânicos custavam até três vez mais do que os similares
convencionais. Hoje, a diferença média é de 50%, segundo a rede.
Já um produtor de hortaliças de São Paulo
diz que os preços não cedem em razão da lógica dos supermercados:
"Varejistas vendem orgânico como produto da moda. Como tem quem pague,
continuam praticando preço alto". Ming Liu, coordenador do Projeto
Organics Brazil, que reúne produtores, afirma que a venda cresce mais entre os
alimentos "in natura". Mas o consumidor já começa a colocar em seu
carrinho açúcar, café, sucos e geleias.
"Com o aumento da oferta e de pontos
de venda, observamos uma leve redução das margens que o varejo transfere ao
preço final. Mas não há indicação de que haverá quedas de preços
significativas, já que a demanda é maior do que a oferta", afirma Liu.
Com ele concorda Marcio Stanziani,
secretário da AAO (Associação de Agricultura Orgânica). Para diminuir o
descompasso entre produção e procura, seria necessário suporte oficial ao
setor, com financiamento específico e assistência técnica, diz Stanziani:
"O preço só cairá se o governo der ao produtor de orgânico o mesmo apoio
que dá ao convencional".
Quem compra mais
Consumidores de orgânicos do Brasil são
homens e mulheres com renda alta, informados e mais preocupados com qualidade
do que com marcas. A maioria das mulheres tem de 25 a 55 anos, marido e filhos.
Entre os homens, a maior parte tem mais de 40 anos. "De todos os gastos
feitos por famílias das classes A e B, 30% são com orgânicos", diz Manuela
Bastian, diretora da Kantar.
O varejo nota o flerte da nova classe média
com esse mundo. "O consumidor compra o suco em pó, depois migra para o
concentrado. Em seguida parte para o de caixinha e o de soja. O orgânico é o
passo seguinte", diz Rodrigo Mariano, gerente de economia da Associação
Paulista dos Supermercados.
Além de alguns preços mais baixos que os do
grande varejo, feiras de orgânicos e empresas que entregam cestas oferecem
informação ao consumidor. "Nosso público quer saber de onde veio a fruta,
a história do produtor", diz Daniel Pascalichio, sócio do Apanã, único
supermercado orgânico de São Paulo.
Já Carmen Mentone, da empresa de delivery
Via Orgânica, diz perceber dois tipos principais de novos consumidores das suas
cestas. "É a família que começa a fazer a papinha do bebê e a pessoa que
enfrenta uma doença grave e passa a se preocupar mais com a alimentação."
Fonte: Jornal Folha de S.Paulo