Análise do trabalho com jovens na IECLB

Considerando que na IECLB ventila-se a possibilidade de em 2012 termos a discussão sobre “Juventude” para o tema do ano, arisco-me a escrever algumas linhas a respeito do assunto. São conceitos colhidos através do diálogo com colegas, lideranças e membros de comunidades, com jovens e de minha própria observação e experiência no trabalho com jovens. A partir disso, atrevo-me a escrever as linhas abaixo. Conforme um escritor e consultor de empresas holandês chamado Adjiedj Bakas, as tendências para este início de século, entre outras, são as seguintes: 1 – Pensamento Verde: Com as mudanças climáticas o pensamento a respeito do cuidado com o meio ambiente tem crescido como uma nova religião, principalmente entre aqueles que não têm crença religiosa na Europa. 2 – Novas formas de produção: Um sistema de produção onde poucos produzirão muito com alta tecnologia. 3 – Inter-relação dos povos pela rede virtual: Cada vez mais viveremos numa aldeia global. 4. Volta da espiritualidade: necessidade de preencher um espaço no ser humano que não é capaz de ser ocupado pela tecnologia. Nessa aproximação com a espiritualidade não há espaço para fundamentalismos. Acreditamos que estas novas tendências para o novo século necessitam ser consideradas quando desejamos planejar a nossa reflexão em torno do tema “Juventude”. A final, os jovens são diretamente alcançados por essas tendências. Consideremos por exemplo, o espaço que a reflexão sobre a Criação de Deus e o seu cuidado necessita ocupar entre os jovens. Ou então, qual será a nossa resposta diante da massa de jovens que não conseguirá um emprego por causa do reflexo da alta tecnologia que emprega cada vez mais tecnologia e menos mão-de-obra? Ou ainda, como alcançaremos os jovens que estão plugados com o mundo inteiro de forma virtual? Por fim, que tipo de vivência da espiritualidade ofereceremos aos jovens que procurarão as nossas comunidades? Outro estudo importante atribui características às pessoas conforme o período em que nasceram. Assim, cada geração carrega características próprias da sua geração para o resto de suas vida. Abaixo uma descrição da “Geração Y”, correspondente a pessoas nascidas entre os anos de 1977 e 2000, ou seja, nesse grupo estão os jovens de agora. “Geração Y: são as pessoas que nasceram na época da tecnologia e da ecologia. Cresceram com ações de terroristas e por isto têm uma percepção de mundo perigoso. Como suas mães trabalhavam estiveram na pré-escola desde os quatro meses. Caracterizam-se por: apreciarem a maneira de ser dos pais e cobrarem seus direitos; conhecem mais de tecnologia que as gerações anteriores; aceitam de forma natural a diversidade de raças, religiões e ambientes; são ecologicamente corretos e socialmente justos; são auto-confiantes e otimistas quanto ao futuro; são agitados, inquietos, ansiosos e impacientes; desenvolvem tarefas múltiplas; vivem com sobrecarga de informações, dificultando a correlação de conteúdos e desenvolvendo uma visão fragmentada e desorganizada; buscam equilíbrio entre a vida pessoal e profissional; trazem entusiasmo ao ambiente de trabalho; querem trabalhar e aprender; detestam autoritarismo, não respeitam cargos nem currículos, admiram a competência real, a coerência e o comportamento ético; têm necessidade de queimar etapas. Esperam que seus gestores os tratem como colegas e não como adolescentes; reconheçam positivamente suas competências quando atingem as metas acordadas; estabeleçam uma via de mão dupla de aprendizado, trocando conhecimentos num clima de cordialidade e colaboração; pratiquem o que pregam e sejam coerentes com seus discursos e cumpram as promessas estabelecidas.” Fonte: Trajeto RH - http://estagioultragaz2009.wordpress.com/2009/04/15/voce-faz-parte-da-geracao-y/ É essa geração que nós desejamos atingir com nosso trabalho enquanto Igreja. É para ela que desejamos anunciar a mensagem do Evangelho. Mas, a pergunta que não quer calar: será que nós conhecemos suficientemente essa geração? Será que o nosso jeito de ser Igreja vai ao encontro das suas expectativas? Ou será que desejamos primeiro adequar as características de uma geração inteira ao jeito de ser Igreja, para depois envolvê-los pelo Evangelho? Nas comunidades fala-se muito sobre a participação ativa dos jovens na comunidade, porém a realidade tem mostrado que nós não conhecemos suficientemente a vida dos jovens. Não conseguimos adequar as comunidades às perspectivas deles sem perder a essência do Evangelho. Por isso a conseqüência natural é uma baixa freqüência de jovens em atividades comunitárias. De modo geral, a porcentagem de jovens das comunidades atingidos pelo trabalho é relativamente baixa. Dentre os grupos que existem muitos ainda sofrem o sintoma de se “fecharem” à participação de novos integrantes após um certo tempo de existência. Esse “fechar-se” não acontece de forma consciente e voluntária, porém o grupo cria amizades e vínculos que acabam desfavorecendo o ingresso de novos membros. Se considerarmos que a participação dos jovens num grupo é cíclica, ou seja, ela acaba deixando o grupo por diversas razões como emprego, namoro, casamento e outras e há a ausência de novos integrantes os grupos podem contar com uma vida muito curta. Não raras vezes a organização do trabalho com jovens acaba sendo colocada como responsabilidade dos ministros das paróquias. Porém, precisamos considerar que estes não têm formação suficiente para esse trabalho. Também os jovens nem sempre tem condições de exercer a liderança sozinhos. Aliado a isso, ainda não possuímos materiais didáticos e de formação suficientes para o trabalho com jovens na IECLB. É comum ouvir relatos de jovens que se sentem frustrados com seus grupos porque não conseguiram estabelecer um objetivo de trabalho comum e concreto para o grupo. Sabemos que quando não existe um objetivo comum e concreto num trabalho com jovens que, que respeite o seu mundo que envolve a dimensão do lazer, da diaconia, da formação, da celebração e da convivência o trabalho está fadado a não obter êxito. É preciso que compreendamos que, de modo geral, os jovens acreditam em Deus e têm a necessidade de viver uma espiritualidade, mas não se identificam com o modelo de Igreja que apresentamos a eles. A sociedade pós-moderna dá passos que transformam a realidade numa velocidade cada vez maior. Por outro lado, a Igreja, em muitas questões, se mantém por demais tradicional, sem inovar na maneira de transmitir o Evangelho. Em meio a isso se faz a pergunta: porque o jovem não vem à Igreja? Talvez a pergunta que também devêssemos fazer é: porque a Igreja não vai ao jovem? Conforme o apóstolo Paulo, a comunidade é o corpo de Cristo e congrega diferentes membros que se completam uns aos outros. Por isso os jovens não podem formar um grupo a parte ou estar completamente fora da vida comunitária. Ao contrário, precisam estar completamente integrados em tudo que acontece. Porém, para que isso aconteça é necessária boa vontade por parte de todos os membros desse corpo – tanto dos jovens, como dos adultos. Precisamos sempre lembrar que sem os jovens o corpo não está completo. Completar esse corpo, que é a comunidade, é uma missão nada fácil. Ainda é necessário derrubarmos vários tabus. O primeiro deles é a dificuldade que temos de abordar a temática juventude. As comunidades somente poderão realizar um bom trabalho com jovens quando seus membros (incluindo os jovens), presbitérios e ministros se ocuparem numa discussão aberta e sem preconceitos sobre o assunto. O segundo tabu que precisamos derrubar é acreditar que trabalho com jovens somente se faz quando existe um grupo de jovens na comunidade. Essa é uma visão errada da missão. O trabalho com jovens é na verdade todo e qualquer esforço que uma comunidade pode fazer na tentativa de envolver os jovens em qualquer de uma das suas atividades, inclusive o grupo de jovens. A IECLB, em suas comunidades, paróquias e sínodos é uma Igreja que se organiza através de grupos. A exemplo do Culto Infantil, da OASE e outros grupos o trabalho com jovens é planejado usando a mesma estrutura. Espera-se assim que as comunidades organizem grupos de jovens, com um número regular de participantes que se encontram regularmente, realizam meditações, estudos, cantos e algum esporte. Porém, precisamos nos perguntar se esse modelo de trabalho não está desatualizado frente as atual conjuntura da organização da sociedade humana. Para haver realmente uma aproximação entre comunidade e jovens é necessário em primeiro lugar uma ampla discussão sobre o fenômeno social chamado Juventude. Para isso um esforço muito grande de conscientização, a começar pelas famílias, presbitérios, grupos, comunidades, ministros/as e todas as pessoas que se interessam por essa causa. Essa consciência se faz necessária, pois ela é um passo importante para que possamos investir tempo, dons e dinheiro nesse propósito. É importante que cada comunidade pense em como pode incluir os jovens em seu âmbito. E isso começa com uma conscientização sobre a nova ordem mundial e as características da geração de jovens. Não podemos continuar acreditando que o melhor formato de trabalhar com jovens é o do passado. Não raras vezes ouvimos pessoas dizendo “no meu tempo era assim e era bom.” Esse desejo saudosista de que o trabalho com jovens volte a ser como foi no passado desrespeita as transformações sócias e antropológicas ocorridas nos últimos tempos. Para isso vale lembrar que o Grupo de Juventude Evangélica é uma importante alternativa para envolver jovens na comunidade, porém, não a única. Um olhar cuidadoso pode detectar inúmeras possibilidades que englobam especialmente as áreas da arte, música, diaconia, tecnologia, aventura, convivência e outras. São áreas muito facilmente compatibilizáveis com a fé e por isso podem ser exploradas pelas comunidades, com atenção especial à valorização de todos os dons existentes em seu meio. Assim, poderíamos resumir dizendo que o trabalho com jovens compreende toda e qualquer ação que uma comunidade ou alguém realiza visando incluir os jovens em seu âmbito. Com certeza, identificando as possibilidades de cada comunidade, é possível ensaiar novas modalidades de envolvimento dos jovens em algum trabalho comunitário. Porém, a nossa reflexão como Igreja também não pode se limitar apenas na busca por um trabalho que vise o envolvimento do jovem na vida comunitária. O trabalho com jovens pode ultrapassar essas barreiras se valorizarmos os espaços “extra-comunidade” que muitas vezes estão a nossa disposição e aos quais não damos a devida atenção. Se considerarmos a quantidade de convites que ministros/as da IECLB recebem para inserções em escolas, rapidamente chegaremos a conclusão de que temos a nossa disposição um contingente muito grande de jovens que estão dispostos a ouvir a nossa mensagem. As inúmeras escolas ligadas à Rede Sinodal são espaços privilegiados para o contato com os jovens. Não podemos ter receio de imprimir nossa marca luterana na educação oferecidas por essas escolas. Com certeza também não percebemos ainda as possibilidades de estar ao lado da grande quantidade de jovens que migram para as cidades que abrigam centros universitários. Ou ainda, não descobrimos e não nos aliamos às inúmeras instituições que oferecem apoio e formação através de projetos desenvolvidos e que visam atingir os jovens. Também não buscamos ocupar satisfatoriamente os espaços na administração pública, com o objetivo de colaborarmos no estabelecimento de políticas públicas que visem a promoção da vida dos jovens. Temos por vezes a idéia de que nos bastamos por nós mesmos, esquecendo que podemos complementar o trabalho de outras instituições compartilhando a nossa visão de mundo e da relação do ser humano com este mundo. E, onde for possível, inclusive deixar a marca da nossa teologia luterana. Porém, infelizmente na IECLB muito pouco se motivou as comunidades a constituírem formas alternativas no relacionamento com os jovens. Permanecemos num único modelo, os grupos de jovens JE, o que volto a repetir, não deixam de ser uma boa opção. Aliado a isso, as instâncias diretivas e de fomento do trabalho nessa área nunca conseguiram se desvencilhar de um único modelo de organização e envolvimento dos jovens, que valoriza demais diretrizes regimentais, estatísticas e representações e se esquece de discutir a real conjuntura da vida dos jovens e não conseguem estabelecer novas possibilidades de ações. Além disso, inúmeras reuniões e seminários realizados no âmbito da Igreja, inclusive com altos custos, têm se preocupado em debater velhos problemas dos grupos de jovens e definir velhas soluções, que no decorrer dos anos sempre foram as mesmas e nunca sanaram os problemas relacionados aos grupos de juventude. Por isso, acreditamos que é hora de buscarmos fazer uma reflexão madura, que considere a conjuntura do mundo e a realidade dos jovens e assim podermos trabalhar na edificação de comunidades que criam espaços de relação com os jovens, valorizando seus dons e respeitando suas peculiaridades. À IECLB e aos Sínodos fica o desafio de serem um agentes motivadores desse processo. De fazer com que de cada recanto surjam notícias sobre como comunidades usaram da inovação e criatividade para criar espaços de identificação entre os jovens e a Igreja. P. Fábio B Rucks ieclbgirua@terra.com.br