Acidente em Santa Catarina - Diante da tragédia, solidariedade reafirma o espírito comunitário


Muitos esquecem que nós somos seres sociais. E isso significa que nós necessitamos uns dos outros. Por mais que nos isolemos, tragédias como essa ocorrida em SC e que vitimou dezenas de pessoas de Santo Cristo e região, nos dão a clara dimensão de que de fato nós necessitamos uns dos outros. E quando seres humanos se dispõem a tirar um pouco de si mesmos e oferecer a outros, então temos atos de solidariedade. No trágico dia 05 de março de 2011, quando as primeiras notícias veiculadas pelos meios de comunicação informavam que integrantes da família Weimer e Ickert estavam envolvidos num acidente entre um ônibus e um caminhão em Santa Catarina, imediatamente iniciaram as preocupações entre familiares e inúmeros vizinhos e amigos. Diante da angustiante espera por informações mais precisas sobre o acidente, não faltaram abraços emocionados e palavras de consolo e conforto. Na residência dos Weimer em Boca da Picada imediatamente se reuniram vizinhos e familiares. Pessoas dispostas a compartilhar a carga da angústia e da dor. Pessoas dispostas a fazer qualquer coisa para ajudar a família: dar um abraço, dizer palavras de conforto, enxugar uma lágrima, oferecer um copo de água, avisar familiares do acidente, preparar uma refeição, ou simplesmente sentar ao lado dos familiares num silêncio que dizia “eu estou aqui contigo”. Até então a notícia era de que os três integrantes da família, Ari, esposa Marli e o filho Leonardo teriam falecido. Desespero geral. Até que alguém encontrou na internet imagens do local do acidente e do trabalho dos bombeiros. No colo de um dos bombeiros, sem se poder ver o rosto, um menino que parecia ser Leonardo. Informação que se confirmou em seguida através de contato telefônico com o hospital de São Miguel do Oeste, onde o menino estava internado. Do IML veio a triste notícia da morte de Ari e Marli. Não existem palavras para descrever os sentimentos daquele momento. Alívio pela vida do Leonardo. Dor pela morte dos pais do menino. O apoio e a solidariedade se estenderam no preparo do local para o velório e uma sepultura para o sepultamento do casal. Eram passados da meia noite de sábado para domingo, e apesar do adiantado da hora, a igreja da Comunidade Evangélica São João estava lotada de pessoas que aguardavam a chegada dos corpos para o velório. Na chegada houve comoção geral. Os familiares aos pratos não acreditavam no que estavam vivendo, e entre a comunidade reunida, muitas pessoas tomadas por lágrimas e outras tantas certamente silenciosamente derramavam uma lágrima interior. Depois, não foram poucos os que permaneceram ao lado da família durante toda a noite. No domingo, centenas de pessoas vieram trazer sua solidariedade às famílias Weimer e Ickert. Já era passado do meio dia e a multidão permanecia lá, no calor do salão comunitário, num silêncio meditativo ouvindo as orações e textos bíblicos dirigidos pelo pastor, as palavras de esperança expressas nas canções entoadas e o discurso emocionado de Rubem, irmão de Ari. Em seguida, solenemente, um por um dos presentes fez a sua última despedida ao casal. E, abaixo de um sol escaldante, acompanharam o féretro até o cemitério. Agora, certamente a solidariedade continuará se manifestando através da amizade com as famílias enlutadas, na celebração em memória do casal, que acontecerá no dia 27 de março, mas, especialmente, no cuidado e no amor pelo Leonardo. Pois, com certeza, não faltarão pessoas dispostas a suprir, ou pelo menos tentar suprir, a lacuna na vida de uma criança de quatro anos que fica órfão de seus pais. Escrevemos esta detalhada história apenas com um objetivo: destacar a prática da solidariedade de uma comunidade. Esta é a essência de uma comunidade, que torna comum a dor sentida por uma família. Por isso, felizes aqueles que não se isolam em suas vidas, se trancam em suas casas, ou vivem a sua vida apenas pelo prazer do trabalho ou de acumular riquezas. Sim, felizes aqueles que sabem cativar um amigo ou amiga, que doam um pouco de si em favor de outros, sem esperar algo em troca. Sim, as pessoas mais felizes são aquelas que descobriram na prática da solidariedade o sentido da sua vida. Episódios como este acidente nos deixam profundamente tristes. Mas também nos fazem sentir que ainda temos dentro de nós uma força que nos move em direção aos outros. Que esse episódio reforce em nós o desejo de queremos viver em comunidade, nos servindo mutuamente, para que, quando dores se abaterem sobre nós, tenhamos alguém do nosso lado nos oferecendo um ombro amigo. P. Fábio B. Rucks IECLB – Giruá ieclbgirua@terra.com.br