Jovens - Amizade com Fé

As histórias de jovens que participam de grupos
religiosos e se divertem

Loraine Luz - Matéria de ZH de 30/06/2000

Fala-se de Deus o tempo inteiro, canta-se ao violão músicas de louvor a Jesus. Ninguém namora, ninguém vai a festas. Todos vão virar padres ou freiras. Você está achando que são assim o cotidiano e as perspectivas dos jovens que participam de grupos de igreja? Se assim, é melhor deixar de achar. Não é nada disso.
“Quando falo que freqüento um grupo, uns acham legal, outros acham que é caretice. Porque estamos ligados à igreja, acreditam que passamos o tempo inteiro rezando. E não é assim”, avisa Jéssica Brahm Vitolla, 15, que participa de um grupo evangélico há dois anos. “Fiz viagens com o grupo, para a Serra, para a praia, programas divertidos. Identifiquei-me e comecei a freqüentar.”
Alessandra Fredes da Silveira, 16, há três anos em um grupo católico, conta que essas viagens não têm nada de tediosas, como a maioria das pessoas aposta. “Imagina um grupo de amigos reunidos, no que dá? Bagunça! É uma viagem de amigos como qualquer outra. As pessoas imaginam que passamos o tempo todo rezando, ajoelhadas em cima do milho, e que vamos ser freiras. Não é nada disso.”
Os grupos se reúnem uma ou duas vezes por semana, geralmente nas tardes de sábado. Não há atividades fixas - e, quaisquer que sejam, elas são definidas pelos próprios participantes, na hora, com independência de outros setores da igreja a que estão ligados. Podem ser jogos, festas, passeios no shopping ou um simples bate-papo, cujo tema também é opcional, embora sempre hard: sexo, drogas, família, aborto, gravidez. Qualquer semelhança com o que você costuma fazer com seus amigos não é mera coincidência.
Amizade. É esse o sentimento que justifica tudo para aqueles que integram esses grupos. Thiago Ernesto Oba Becker, 17, que participa do grupo de jovens de uma igreja evangélica de Porto Alegre desde os 14 anos explica: “O mais importante é a união, a amizade. É diferente das outras amizades. Confio muito mais nessas pessoas, são mais calmas, equilibradas, tranqüilas do que aquelas que a gente encontra no colégio, por exemplo.” E quem acha que essa amizade não pode evoluir para algo mais engana-se de novo. “Acontece muito de o pessoal ficar. Dificilmente é uma relação que estraga a amizade. Quando termina, continua amigo”.
O grupo que Thiago integra começou com ele e outros cinco jovens, todos então com 13, 14 anos. Hoje, o grupo conta com oito, 10 “realmente” atuantes (que quase não faltam). Às vezes somamos 15 pessoas. Tem gente que traz amigos, parentes. Um terço dos que participam hoje talvez nem religião tenham. “Thiago levou a namorada, Samantha Nervo Otero, 17, que é católica (não praticante). Há mais de um ano ela freqüenta com ele as reuniões. “A gente tem uma idéia de que é careta participar, mas, do jeito que o Thiago me contou, eu me interessei. O pessoal me recebeu bem, me enturmei logo. E se meu namoro com Thiago terminasse, com certeza eu continuaria participando do grupo. Não deixaria os amigos que fiz lá”, garante Samantha.
Patrícia Linck Berto, 16, também destaca a amizade nos cursos de liderança juvenil, os famosos CLJs, que envolvem várias paróquias católicas em encontros anuais com mais de 200 jovens. “Comecei por curiosidade, colegas meus faziam, e fui experimentar”, diz ela que freqüentou o curso todos os sábados dos últimos seis meses. Os CLJs têm uma organização mais detalhada, com atividades fixas (seminários, retiros e ações beneficentes em creches e asilos, por exemplo). “Perguntam-me como consigo ficar o dia todo na igreja, chamam-me de louca. No CLJ, encontrei muitos amigos, a gente sente uma coisa diferente. Sempre saio de lá com uma emoção que não sei explicar. É muito bom.”