Pregação proferida por ocasião do Culto Ecumênico em comemoração a Reforma Luterana.


Liberdade! Quem não a quer? Já na época do Lutero pessoas ansiavam pela liberdade. Queriam se libertar do pesado jugo das indulgências, queriam libertar-se de terem que comprar cadeiras no céu para obterem salvação. Queriam deixar de pagar altos valores para terem direito ao perdão dos pecados. Mas para que essa liberdade acontecesse era necessário que uma verdade fosse desvendada. E onde estava essa verdade? Estava nas Escrituras Sagradas. Lutero não inventou nenhuma verdade que pudesse libertar o povo. Ele, em companhia de outros reformadores, apenas fez as pessoas enxergarem novamente essa verdade libertadora revelada na Bíblia. Para falar dessa verdade que liberta também a nós ainda hoje, ou vos falo de uma história. Uma história da Idade Média nos conta que na Rússia havia algumas tribos que costumavam guerrear entre si. Uma dessas tribos conseguiu se destacar, entre as demais, pela sua união e bravura. Quando as pessoas daquela tribo foram perguntadas sobre a causa que as mantinha tão unidas e fortes, a resposta foi uma só: “Nosso comandante, Chemil, o Justo, é a causa de nosso sucesso. O que promete, ele cumpre!” Aconteceu, porém, que no acampamento daquela tribo começaram a desaparecer objetos de valor. Havia um ladrão entre eles. Então, Chemil reuniu a tribo e anunciou: “Aquele que for pego roubando, será duramente castigado com 40 chicotadas!”. Durante alguns dias nada foi roubado. Mas, não demorou muito, os roubos voltaram a acontecer. Por fim, conseguiram pegar o ladrão. Para surpresa de todos, o ladrão era a mãe de Chemil. Os comentários foram muitos. Uns diziam: “Chemil não vai ter coragem de castigar a própria mãe. Ele não vai cumprir o que ordenou”. Outros diziam: “Não interessa que seja a própria mãe. Ela precisa ser castigada”. Então, Chemil comunicou que o castigo seria aplicado. Os guardas trouxeram a mãe dele e a amarraram no tronco. Quando iam começar a chicoteá-la, Chemil interrompeu e disse: “O castigo será aplicado. Mas por se tratar da minha mãe, eu me coloco no lugar dela.” Então, todos testemunharam como um filho carregou sobre a si a culpa de sua própria mãe, por causa do grande amor que tinha por ela. Pelo desenrolar da história a mãe de Chemil estava condenada. Da mesma maneira também nós, pobres seres humanos, estão sujeitos a condenação. Mereceríamos o castigo de Deus. Mas, através das Sagradas Escrituras, trouxe à luz o que antes era “escondido”: o Filho de Deus foi colocado em nosso lugar para carregar a condenação destinada a nós. E Lutero descobriu mais: ninguém precisa pagar nenhum centavo, não precisa fazer nenhuma obra para que Cristo faça isso também por nós. Jesus faz isso de graça, por graça. Ele faz isso por que o seu amor por nós é imenso. Amor maior que o nosso próprio entendimento. E alguém pode se perguntar então: mas o que eu faço para merecer esse grande benefício que Cristo fez por nós? Eu respondo: apenas creia. Se a nossa fé permite crer que Jesus morreu para nos salvar e redimir isso já é o suficiente: você já descobriu a grande verdade que liberta. Mas libertar do que? Liberta do desejo de nós querermos nos salvar a nós mesmos. Livres do desejo de querer fazer muitas coisas boas neste mundo só para ser reconhecido por Deus e pelas pessoas. A verdade de Cristo nos torna simplesmente livres para amar. O Apóstolo Paulo afirma que a fé se torna ativa pelo amor. Não são as obras que nos permitirão conquistar a graça de Deus. Mas elas devem ser frutos do amor, que torna visível e concreta a nossa fé como resposta para Cristo. Martim Lutero procurou desenvolver essa verdade na sua famosa afirmação: “Um cristão é livre e senhor sobre todas as coisas e não é submisso a ninguém; Um cristão é servo de todas as coisas e submisso a todos”. O próprio Lutero constatou: "Quanta miséria se vê no mundo nos dias de hoje somente por causa dos problemas da moeda, onerada diariamente com exploração e juros no comércio em geral, na compra e na prestação de serviços aos que oprimem arbitrariamente os coitados dos pobres, privando-os do pão de cada dia! É um sofrimento do qual não podemos fugir. Mas cuidem-se para que não percam a intercessão geral e não venha o Pai Nosso a ser seu inimigo.” E Lutero sugeriu: "Se cada um servisse a seu próximo, o mundo inteiro estaria repleto de culto a Deus. Um peão no curral e um menino na escola servem a Deus. Da mesma forma, quando a empregada e a patroa são piedosas, isso significa servir a Deus. Assim todos os lares estariam cheios de culto a Deus e nossas casas se tornariam igrejas, porque lá se prestaria serviço a Deus.” O que vale para a nossa vida? Por um lado, vale a liberdade que Cristo nos concedeu. Somos justificados unicamente por Cristo. Por outro lado, esta maravilhosa dádiva é aceita através de uma gratidão muito grande, que se manifesta por fé e amor. Por isso, Lutero pôde concluir: “Um cristão não vive para si mesmo, mas para Cristo e para o próximo; para Cristo através da fé e para o próximo através do amor.” P. Fábio B. Rucks Paróquia Evangélica de Giruá – IECLBieclbgirua@terra.com.br